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💡Você Está em Paz ou...
Apenas Anestesiado?

Imagine alguém sentado à beira de um lago calmo. Os pássaros cantam, a água reflete o céu, tudo parece sereno. Mas, dentro dessa pessoa, o silêncio é barulhento. Pensamentos não ditos. Emoções represadas. A calma do lado de fora esconde um caos silencioso dentro.
É fácil confundir anestesia emocional com paz interior. Afinal, ambos são silenciosos — mas só um deles cura. O outro apenas adia.
A verdade é que, muitas vezes, nos adaptamos tanto ao sofrimento que aprendemos a chamá-lo de normalidade. Reprimir sentimentos vira rotina. Racionalizar tudo é sinal de força. E o corpo? Vai absorvendo o que a mente não quer sentir.
Nessa dose de autoconhecimento e autenticidade, vamos entender por que esse “estado de neutralidade” pode não ser sinal de evolução — mas de desconexão.
🧠 Paz Interior ou Fuga Emocional?

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No mundo contemporâneo, ser uma “pessoa zen” virou quase um troféu. Minimalismo, silêncio, foco... tudo isso parece estar na prateleira das metas de vida bem-sucedida. Mas há uma diferença gritante — embora silenciosa — entre estar em paz e estar anestesiado.
A paz verdadeira é cheia de vida. A anestesia é cheia de ausências.
Segundo o psicólogo Thomas Moore, autor de O Cuidado da Alma, a paz só é real quando inclui tudo o que somos — inclusive nossa dor, nosso medo e nossa raiva. Não se trata de eliminar o conflito interno, mas de aprender a habitar esse espaço sem rejeição. O problema começa quando a busca pela calma vira uma fuga disfarçada. Quando a meditação é usada para calar a angústia, não para compreendê-la. Quando o “tô de boa” esconde o “não aguento mais”.
Um estudo recente publicado na Journal of Affective Disorders (PARK et al., 2023) revela que pessoas que praticam supressão emocional contínua — isto é, ignoram ou evitam suas emoções negativas — apresentam níveis mais elevados de esgotamento emocional, sintomas depressivos e distúrbios no sono, mesmo quando dizem que “estão bem”. Essa dissociação entre o que se sente e o que se admite sentir cria uma falsa paz que não regenera — apenas paralisa.
A psicologia junguiana nos oferece uma lente simbólica poderosa: tudo aquilo que não é aceito, é empurrado para a sombra. E a sombra nunca some — ela apenas muda de forma. A raiva que você não expressa pode virar apatia. A tristeza não sentida vira cansaço sem causa. A dor não vivida se transforma em indiferença emocional. E o mais perigoso: aprendemos a chamar isso de equilíbrio.
Mas estar em paz não é estar neutro. É ter espaço interno para sentir sem se afogar, para se emocionar sem se perder. A anestesia protege, sim — mas protege até mesmo da alegria, da paixão, da criatividade. Paz de verdade só começa onde a gente para de fugir de si… Em outras palavras: O caminho da paz está logo após às portas do caos.