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💡 Autocuidado ou Autoabandono Disfarçado?
Por que fazer por você mesmo às vezes parece errado?

Você já se pegou sentindo culpa por descansar? Ou duvidando se aquele “tempo para si” não seria, na verdade, egoísmo disfarçado de autocuidado?
Vivemos em uma sociedade que exalta produtividade, resiliência e entrega. Ser “altruísta”, muitas vezes, é visto como o ideal — mesmo que isso signifique se abandonar aos poucos. O resultado? Pessoas que cuidam de todo mundo, menos delas mesmas. Que fazem mais do que podem e sentem menos do que precisam. E, quando tentam mudar… se sentem erradas.
Mas será que autocuidado é, de fato, sobre tomar banhos de espuma e acender velas aromáticas? Ou será que estamos confundindo negligência com amor-próprio — e chamando de autocuidado o que, na prática, ainda é uma fuga?
Nessa dose de autoconhecimento e autenticidade, vamos investigar como, muitas vezes, chamamos de “cuidado” aquilo que ainda é abandono. E como podemos aprender a cuidar de nós sem culpa — com coragem, presença e amor próprio de verdade.
🧠 Cuidar de Si Não Deveria Parecer Errado (Mas Parece)

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Segundo a abordagem da Terapia do Esquema, muitos adultos desenvolvem padrões de autoabandono ainda na infância — quando aprenderam que suas necessidades emocionais não seriam prioridade. Com o tempo, esses padrões viram vozes internas: “não seja fraco”, “não reclame”, “ninguém tem tempo pra isso”. E a gente vai acreditando. Afinal, se cuidar virou sinônimo de egoísmo, a alternativa passa a ser se sacrificar.
De acordo com um estudo publicado na Clinical Psychology Review (2023), indivíduos com autoconceitos negativos — isto é, que se enxergam como pouco valiosos — tendem a sabotar comportamentos de autocuidado. Não por falta de informação, mas por sentirem que não são dignos de afeto, nem mesmo o próprio (JOHNSON et al., 2023). A consequência é cruel: quanto mais precisamos de cuidado, mais o evitamos.
Na lente junguiana, esse conflito pode ser visto como um embate entre a persona — nossa máscara social que busca aceitação — e a sombra — partes nossas que escondemos, mas que nos compõem. A persona quer manter a imagem de forte, incansável, prestativo. A sombra grita por descanso, espaço, verdade. Quando negamos essa sombra, nos despersonalizamos: viramos função, não ser. Cuidar de si, então, deixa de ser um capricho para se tornar um gesto de reintegração — de se lembrar que o mundo pode até esperar, mas o seu corpo e sua alma não.
E aqui mora o paradoxo: quando cuidamos de todos menos de nós, o que oferecemos ao outro é presença pela metade. Relações carregadas por exaustão, promessas feitas no automático, amor que esvazia em vez de encher. O problema não é o autocuidado em si — é a narrativa que colamos sobre ele. Quando essa narrativa vem da culpa, da performance ou da fuga... o “cuidado” se torna mais um jeito de seguir se abandonando.
Se cuidar não é parar o mundo. É voltar a fazer parte dele.